No artigo desta semana, o colunista Gabriel Granjeiro exalta as decisões que são baseadas na esperança e não no medo
Você já participou de um jogo de dardos, aquela brincadeira na qual arremessamos pequenas setas com pontas de metal ou plástico num alvo e somamos os pontos conforme a região que conseguimos atingir? Se sim, talvez já tenha notado que basta uma leve inclinação do corpo em qualquer sentido para que o resultado mude completamente. Você pode até errar o alvo inteiro só por ter feito o lançamento de um ângulo ligeiramente diferente dos anteriores.
Na vida acontece algo parecido: pequenas mudanças de perspectiva ou de atitude hoje podem impactar totalmente – para o bem ou para o mal – os resultados colhidos amanhã.
Diariamente tomamos decisões mais ou menos importantes. Ao fazê-lo, somos movidos por forças presentes dentro de nós, principalmente medo e esperança. Como se vê, são forças antagonistas que se digladiam em nossa mente a fim de direcionar nossas ações. Você já procurou avaliar qual delas pesa mais na sua balança decisória?
Talvez seja a esperança? Se for, ótimo. Veja bem, esperança não significa passividade, algo como um otimismo vazio. A noção de otimismo é mais rasa que a de esperança. O diretor executivo do Centro de Esperança da Universidade de Arizona, John Parsi, sintetiza bem a questão: “Otimistas conseguem ver o copo como meio cheio, mas pessoas esperançosas perguntam como elas podem encher o copo inteiro”. E vai além: “Esperança exige que a pessoa tome responsabilidade por suas aspirações e desejos e aja para alcançá-las”.
LEIA TAMBÉM
Em outras palavras, esperança impõe esforço, atitude. Ela só existe no fazer. A premissa é: o futuro pode ser melhor que o presente porque temos o poder de agir para isso.
Nesse sentido, a imaginação é um instrumento importantíssimo, ao possibilitar que visualizemos realidades alternativas apesar de a atual sinalizar rumos bem menos promissores. Ser esperançoso é, portanto, ter objetivos claros, um bom caminho traçado para alcançá-los e força de vontade para seguir na jornada, fazendo os devidos ajustes de percurso sempre que necessário.
Contudo, não são todos que conseguem cultivar a esperança propositiva como essa que acabo de descrever. Para alguns já é difícil manter algum otimismo, que dirá ter esperança. Contextos em que o estresse é diário e as adversidades são contínuas, por exemplo, tornam o sujeito basicamente um sobrevivente. Para ele, alcançar novos feitos está no campo do intangível, e seu objetivo principal passa a ser apenas evitar novas frustrações. Toda sua energia é direcionada à mera autopreservação.
Pode-se dizer, então, que pessoas em situações extremas tomam decisões pautadas mais por medo do que por esperança. Ora, isso é perfeitamente compreensível. E digo mais: é até desejável, no início. O medo pode funcionar muitíssimo bem como força motriz; foi o que a conversa com alguns alunos no canal Imparável me revelou.
Em muitos relatos que ouvi, o temor de levar uma vida parecida com a dos pais ou de tornar a passar por situações difíceis serviu de mola propulsora para a busca por um futuro melhor. Mas há um detalhe: os alunos não permaneciam indefinidamente movidos pelo medo. Ao contrário, com o passar do tempo, à medida que engatavam nos estudos e percebiam seu potencial para chegar longe, substituíam o medo por aspirações mais positivas.
Estou dizendo, amigo leitor, que é difícil manter o medo como único combustível por muito tempo. Ele dura pouco. Viver à base do medo é perigoso, triste, desgastante. Uma hora a força de vontade deixa de se sustentar exclusivamente por ele.
É aí que surge a necessidade de mudar um pouco o ângulo ao lançar seus dardos. Cabe, de novo, a provocação: você tem tomado decisões com base no medo ou na esperança?
Quando se vê num momento importante de sua trajetória, qual desses antagonistas você escuta primeiro para definir seu próximo passo? Como você começa o dia: pensando no que pode dar certo ou nos erros que você quer evitar a todo custo? Veja, uma pequena mudança de postura em direção à esperança no lugar do medo pode ser o que faltava para você vir a marcar mais pontos no jogo da vida.
E sabe a boa notícia? A esperança é treinável; qualquer um pode desenvolvê-la. Compilei algumas dicas sobre isso com base no que diz a ciência. Vamos a elas?
Pensar na jornada inteira torna o processo bastante desanimador. O ser humano tem dificuldade em mirar algo muito distante, então pense primeiro no que você precisa vencer hoje, depois no que deve conquistar esta semana, em seguida nos feitos do mês... Vá expandindo aos poucos seu campo de visão, definindo metas progressivamente mais complexas até atingir os seus objetivos mais amplos.
São poucas as certezas que temos na vida. A principal delas é de que um dia chegará nosso dia de partir, mas há outra: a de que conviveremos com incertezas em todo o nosso tempo na Terra. Se alguns de nós enxergam as indefinições através de lentes negativas, outros, mais esperançosos, veem nelas justamente a margem de que precisam para ajustar o que for necessário a fim de concretizar seus maiores sonhos.
Evite, na medida do possível, coisas e pessoas que despertem pessimismo em você. Não comece o dia lendo notícias de desastres e tragédias. Em vez disso, consuma conteúdos inspiradores, sugestivos de que ter esperança faz sentido. O canal Imparável no YouTube e os documentários sobre alunos aprovados que o Gran produz são exemplos desse tipo de material. Não se trata de se tornar alienado, mas de cuidar para não cair nas armadilhas da mídia e das redes sociais. Lembre-se: o medo gera mais cliques do que a esperança, e os produtores de conteúdo exploram isso ao máximo. Seja mais seletivo.
Só erra quem faz, quem age. Se você cometeu erros sérios – como, aliás, eu mesmo cometi inúmeras vezes –, é porque está tentando fazer algo grande. Aprenda com seus desacertos, mas saiba que eles não definem você. O seu Eu de amanhã será diferente do de hoje, que, por sua vez, não é o mesmo de ontem. Somos a soma de nossos erros e acertos, em contínua evolução. Reflita sobre seus tropeços e dê a si mesmo espaço para se recuperar deles, mas depois siga em frente. Saiba que vai falhar de novo, mas não importa, desde que a falha se dê alguns degraus acima em sua escalada. O caminho é para a frente e para cima, não para trás e para baixo, entende?
Esperança produz esperança. Dacher Keltner, psicólogo e professor da Universidade de Berkeley, explica que, quando proporcionamos esperança para alguém, nosso cérebro interpreta como se a estivéssemos proporcionando para nós mesmos. Portanto, ser um canal por onde a esperança flui é bom para todos. Cria-se uma corrente do bem. Mesmo que você esteja num dia ruim, jamais se esqueça disso.
Defina um propósito para todas as suas ações. Faça isso sobretudo quando estiver em jogo uma tarefa mais dificultosa. O esforço exige muito de nós, mas saber por que estamos fazendo algo aumenta muito as chances de persistirmos.
E então, pronto para treinar sua esperança e torná-la dominante na tomada de decisões em sua vida? Pronto para arremessar seus dardos de um ângulo diferente que potencialize as chances de acertar “na mosca”? Se sim, alongue-se, ajuste sua mira, (re)posicione o corpo e lance a seta. Depois me conte aqui o resultado, combinado?
*texto de Gabriel Granjeiro, diretor-presidente do Gran Cursos Online
+++Acompanhe as principais informações sobre Concursos Públicos, Empregos, Sociedade, Brasil e Saúde no JC Concursos
Siga o JC Concursos no Google NewsSociedadeBrasilMais de 5 mil cidades no Brasil!
+ Mais Lidas
JC Concursos - Jornal dos Concursos. Imparcial, independente, completo.