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Filósofo, garçom e concurseiro

Quanto tempo dura a felicidade de passar em primeiro lugar em um concurso público?

Redação
Publicado em 08/10/2010, às 15h01

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Quanto tempo dura a felicidade de passar em primeiro lugar em um concurso público? Para João Paulo Santos Leonel, 27, o prazo foi de nove meses. Tempo que o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE/MG) levou para anular a questão número 50 do concurso para técnico judiciário. Com essa simples medida, João Paulo despencou de 1º para 4º colocado e ainda aguarda a convocação. Desiludido? Não. João Paulo continua um concurseiro de primeira.

Ficou com a impressão de ter pego o bonde andando? Culpa desta jornalista. Deixe lhe apresentar o personagem da semana: o João Paulo, além de concurseiro, é garçom e tem formação em filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG).

Adotou a carreira de garçom ainda na faculdade, em 2002, como uma forma de se sustentar. “Era bastante puxado porque tinha aula de manhã e meu trabalho era à noite, até altas horas. Matei algumas aulas, demorei para me formar, por conta desta discrepância”, disse.

Em 2006, já formado, quis dar aulas na rede pública. Porém, a docência não lhe garantia sequer o mesmo padrão de vida: “Descobri, e isso é um fato até hoje, que o salário de professor de filosofia é bem menor do que o de um garçom. Um professor contratado não ganha mais de R$ 920, isso se ele conseguir completar a jornada de 24h por semana. E eu como garçom, com as gorjetas, estava acostumado a tirar R$ 1.200 a R$ 1500 por mês. Fora os extras com festas de casamento, aniversários...”, contou.

Confrontado com a desvalorização do magistério, mirou-se no exemplo familiar e decidiu ingressar no setor público: “Um de meus irmãos, engenheiro civil, abandonou a carreira para prestar concurso. Ele prestou concurso da Justiça Militar. Tinha apenas uma vaga em Juiz de Fora e ele passou, está lá até hoje e não se arrepende”.

Foram mais dois anos como garçom juntando dinheiro para dedicar-se por um ano inteiro à vida de concurseiro. “Até hoje me mantenho com esse dinheiro”, explicou. Logo após sua demissão, saiu o edital do concurso do TRE. A rotina de estudos ia das 6h até as 23h. A ocasião exigia empenho. “Enfiei todo o conteúdo na minha cabeça. Acho que foi Deus.Tinha aula sábado, domingo e feriado”, comentou João.

A prova foi em 15 de março de 2009. Nosso filósofo garçom achou a prova fácil, conseguiu identificar as “pegadinhas” e terminou a prova antes do limite de horário. Concluiu então que não tinha passado.  Quase desmaiou ao ver que seu nome estava em primeiro.

“Acho que todo concurso não corre no prazo certo. Sempre tem quem recorra na Justiça por meio de mandado de segurança”, observou João. No caso dele, quando o recurso foi acatado, anulando uma questão e concedendo a pontuação a todos os candidatos, ele caiu de primeiro para quarto colocado. Pelos critérios de desempate ele ainda perdeu mais duas posições. Estaria tudo certo já que o edital previa justamente seis vagas para aquele pólo, não fosse uma delas estar reservada a um candidato portador de necessidades especiais.

Ainda assim, ele está confiante porque apurou junto a servidores do TRE que, após a convocação dos aprovados, surgiram postos em aberto em razão de aposentadorias e falecimento de funcionários, por exemplo. “Até hoje aguardo ser nomeado. O concurso tem validade até 18/12/2011, podendo ser prorrogado por mais dois anos. Se for prorrogado, como a lei permite, o prazo irá até dezembro de 2013”, disse.

João Paulo incluiu definitivamente os concursos em seus planos futuros. Depois prestou concurso para auditor fiscal do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais, ficando na 305ª posição. Agora se prepara para seguir os passos do irmão junto à Justiça Militar. A estratégia já está definida: “Estou vendo se consigo fazer uma bela preparação e aproveitando que está todo mundo por conta do MPU (Ministério Publico da União)”.

A motivação é a mesma do tempo em que equilibrava bandejas a noite toda. Diz João Paulo: “Se você perguntar, todo garçom quer ser técnico judiciário. O mais difícil foi ter a coragem de abandonar o trabalho e ficar só estudando. Mas sempre fui doido para abandonar essa minha vida de garçom. Só sei que não quero fazer isso mais. Primeiro fui aprovado e depois li o livro do William Douglas, daí percebi que tinha feito tudo o que está escrito lá. Funciona mesmo”.

Aline Viana

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