Pesquisa aponta insônia como parte intrínseca da depressão

Pessoas com insônia têm um risco significativamente maior de desenvolver depressão no futuro. Resultados da pesquisa possuem implicações significativas para a saúde pública

Pedro Miranda   Publicado em 11/06/2024, às 19h02

JC Concursos

Um estudo conduzido pelo Instituto do Sono revelou uma ligação intrínseca entre insônia e depressão, redefinindo a maneira como essas condições são vistas na prática médica. A pesquisa, que utilizou dados do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, analisou a correlação entre predisposição genética para problemas de sono e sintomas depressivos em uma amostra variada de pessoas com idades entre 20 e 80 anos.

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Os voluntários participaram de uma avaliação clínica detalhada, incluindo polissonografia noturna e responderam a questionários específicos sobre o sono. Além disso, foram coletadas amostras de sangue para análise de DNA, permitindo a identificação de riscos genéticos associados a distúrbios do sono e depressão.

Os resultados foram apresentados no evento Sleep 2024, durante a 38ª Reunião Anual das Sociedades Profissionais Associadas de Sono, realizada no início de junho, nos Estados Unidos.

De acordo com Mariana Moysés Oliveira, uma das principais pesquisadoras do estudo, "A privação de sono ocasional não é suficiente para desencadear depressão, mas a insônia crônica tem uma forte correlação com a gravidade dos sintomas depressivos e a resistência aos tratamentos convencionais para depressão." A pesquisadora destacou que pessoas com insônia têm um risco significativamente maior de desenvolver depressão no futuro.

Os achados são considerados inéditos, mostrando que insônia e depressão compartilham origens genéticas semelhantes. Através de um modelo estatístico avançado, conhecido como escore poligênico, os pesquisadores conseguiram prever o risco para essas condições complexas ao considerar milhares de variantes genéticas.

Mariana explicou que a análise se baseou em estudos de associação do genoma completo tanto para depressão quanto para insônia, revelando que os escores poligênicos foram eficazes em categorizar os indivíduos em grupos de alto e baixo risco. "Pessoas com má qualidade de sono apresentavam sintomas depressivos mais graves, e um maior risco genético para problemas de sono estava associado a um maior risco genético para depressão", afirmou a pesquisadora.

Os resultados da pesquisa possuem implicações significativas para a saúde pública. Segundo Mariana, "A identificação precoce e o tratamento integrado dessas condições podem ser mais eficazes na redução da carga dessas doenças na sociedade. Novos protocolos clínicos que abordem conjuntamente a saúde mental e a qualidade do sono podem emergir dessas descobertas."

Ela também ressaltou a importância do uso de dados genéticos na previsão de predisposições, permitindo identificar indivíduos em risco antes mesmo da manifestação dos sintomas. "Para doenças comuns, como depressão e insônia, não há um único gene responsável, mas sim uma combinação de muitas variações genéticas que, juntas, determinam o risco. Avaliar esse conjunto permite calcular de maneira mais precisa o risco genético."

Por fim, Mariana destacou que com uma abordagem epidemiológica é possível identificar variações genéticas que podem servir como biomarcadores de risco. Compreender essas conexões genéticas pode levar ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, focados nas causas subjacentes das doenças, reduzindo a probabilidade de recaídas.

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